quinta-feira, 24 de março de 2011

O mal venceu?


Parando pra pensar na vida e nos 25 anos, até hoje eu vejo muita coisa do lado negativo, não que eu seja assim, apreendi com o tempo em acreditar nas coisas boas e no que é positivo. Eu não sou mais criança e no mundo competitivo, eu percebo que ninguém mais vai tentar me ajudar com nada e muito menos alisar a minha cabeça. De um lado isso é ótimo porque eu sempre me virei sozinho, só que eu queria um pouco mais de amizade. 

Queria visitas na minha casa e não na minha página do "Facebook", eu queria conversar sobre a vida e contar meus medos, não apenas fuçar na vida alheia e também gostaria de ligações e não SMS.

A tecnologia diz-se aproximar as pessoas, porém, eu acho que ela serve como um remédio potente contra a solidão e o seu efeito colateral pode ser mortal e vazio, talvez até a decadência da humanidade quem sabe?
cabeça fora da realidade

A minha situação é como estar em cima de uma linha, em pé e sem apoio, se eu for pra direita eu terei a frustração, pra esquerda a solidão e se eu for pra frente haverá uma interrogação. No meio dessa enolação toda há muita coisa boa, porém, o que eu mais tenho contato é com pessoas que querem se mostrar o tempo todo o que não são e a educação passa longe, vejo muita falsidade e um grande jogo de interesses. Me parece que se dá bem quem finge. 


Eu acordei para uma vida dura e não encontro pessoas boas pra poder me afastar das ruins que ela me oferece. Quem deu seu valioso tempo pra esse desabafo deve pensar: Esse cara está deprê... Não!

Estou na verdade estou muito bem e enxergando e percebi que para sobreviver dessa batalha de facas sem sentido eu procuro por pessoas boas e que acreditam na honestidade para crescer na vida. Aprendi isso com alguém e quero encontrar boas apreendizados como esse.

Alguem do bem por ai?

Acontece todo dia.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Até quando?

Ontem voltei do cinema pra minha casa e tive a brilhante idéia de voltar de ônibus e logo na entrada tive que desembolsar R$ 3,00 reias para poder chegar ao meu destino, passando calor e ver a falta de cidadania que existe dentro do transporte.

Me incomoda demais saber que desde que comecei a utilizar o transporte público não houve melhora nenhuma, o preço é insano, dentro do ônibus não há ar-condicionado, eu que meço 1,85m sofro muito quando "descolo" um banco para sentar, pois parece que o ônibus foi mal projetado, meus joelhos batem no banco da frente e eu não tenho conforto. Na maioria das vezes vou em pé e daí começam as infinidades de falta de educação e ética no trabalho.



 Começo com os usúarios do BUZÃO. É constante as pessoas jogarem papéis de salgadinho pela janela no ônibus como se a rua fosse depósito de lixo, há também os que não sabem viajar e acabam ficando no meio do caminho, usam a mochila atrás das costas impedindo a passagem dos demais. A tecnologia é aliada dos dos mal educados, quantas vezes você não vê ALGUNS ANIMAIS USANDO O CELULAR SEM O FONE DE OUVIDO? Car*#**%. Geralmente são homens do mesmo tipinho e  o mané não se percebe, fica lá ouvindo o seu estilo músical querendo chamar a atenção, cantando e se mexendo. Ah vai se f... 

 Nessa salada toda há placas dizendo "Proibido o uso de aparelhos sonoros", há também "Lugar preferêncial gestantes, idosos..." e é ai que vem o meu personagem favorito, o "Cobrador de ônibus". Alguem aí me explica pra que serve esse cara? Ele não deveria além de cobrar as passagens dizer aos usúarios: "Oh mané põe o fone de ouvido", "Para de fingir que está dormindo e dê o lugar para essa idosa sentar". Só que ele não faz nada! Isso quando ele está dormindo e você tem que acorda-lo para pagar a passagem, e ele faz cara feia. hehehe é mole?  Peça informação sobre uma rua ou outra pra você ver a boa vontade que ele tem.


Seguindo a linha dos profissionais do transporte há os motoristas. Que também não leêm placas. "Fale com o motorista somente o necessário". Se eu fosse dizer algo eu diria IMBECIL. No ônibus que eu estava o motorista conversava com uma mulher e isso o distrai é óbvio, as vezes dirige muito rápido, não para no ponto, passa do ponto de ônibus, faz curvas à 100km por hora... O transporte público é lamentável.

Não quero generalizar, há bons motoristas e bons cobradores, só que eu mais vejo é o preço das passagens subirem, a qualidade cair e a falta de educação dos envolvidos, passageiros e profissionais da linha. R$ 3,00 reais é muito caro pra esse serviço de péssima qualidade. Eu dúvido que tudo que eu escrevi aqui nesse tópico não tenha acontecido com vc que é usuário do transporte público.


Porque tem que ser assim? Até quando será assim?

"Urghhh"



terça-feira, 4 de janeiro de 2011

As coisas que eu ainda lembro...

 
Há muito tempo que não escrevo no meu Blog e peço desculpas aos 5 leitores existentes:
Minha mãe, a namorada, a prima Vanessa que já até deixou até um comentário e outros mais dois usuários que provavelmente clicaram errado por estarem procurando bobagens na intenet.  ;)

Essa postagem eu ofereço aos anos 1990, pra mim um ano mágico com ótimos desenhos animados e o ano que eu cresci. Essa foto eu montei no Photoshop, usando CRTL+C e CRTL+V adicionando um monte de coisas que me trazem saudade.

Coisas:

Desenho: Os Brollys - Passava no GLUB GLUB, um programa infantil da TV cultura.
Manto: Camisa do Palmeiras 1993, grande time campeão.
Brinquedo: Quem não se lembra ou não teve um Pirocoptero?
Brinquedo: Vai e vem, esse era clássico e as vezes as cordas enroscavam.
Refrigerante: Guaraná TAÍ, hoje substituido pelo KUAT.
Desenho: Cavalo de fogo, não gostava desse.
Série de TV: Família Dinossauro.
Brinquedo: Genius - clássico.
Raças de Cachorros: Boxer - Bulldog Frances e o Pug
Material ditático: Cartilha Porta de Papel, eu apreendi a ler com essa bagassa.
CD: Mamonas assassinas, marcou o ano de 95.
Brinquedo: Futebol GULIVER - Palmeiras x Corinthians, chorei pra ganhar um desse.
Serviços públicos: Se você usa orelhão deve usar cartão, é... eu usei FICHA.
Desenho: Ursinhos carinhoso, eu odiava.
CD: Nirvana - Fiquei impressionado com a foto do bebê a primeira vez que vi.
Futebol: Valderrama é só lembrar da Copa de 1990, qualquer cabelão é Valderrama.
Série de TV: Cyber cops era um clássico e passava na MANCHETE, hoje REDE TV.
Objetos: Disquete, eu usei e foi esse daí grandão.
ICQ: Quem não se lembra? E eu ainda tenho o número, se quiserem me adicionar: 101809129 
Brinquedo: Garrafas mini Coca-Cola, isso era uma febre e tinha na casa de todo mundo.
Comercial: Pizza com Guaraná, até hoje se eu vejo uma pizza de mussarela sendo cortada me dá vontade de beber guaraná antártica.
Cliclets Mini: Mais um clássico.
Caixa de fósforo: Guarani, esse sempre foi o mais consumido em casa.
Brinquedo: Estrelão quem nunca passou horas jogando futebol de botão em um estrelão? E dou uma dica, passa talco ou maizena que o botão desliza melhor para o arremate em gol.
Série de TV: Jaspion, falar o que se eu brincava de ser ele? Nota mil pro Jaspion!
Ayrton Senna: O domingo era mais divertido quando ele ganhava, saudade.
Comandos em Ação: Esses bonecos fizeram muita coisa na minha infância  e eu ainda tenho alguns.

E ai te deu saudade de alguma coisa? Há algo que vc se lembra e eu não mencionei? Comenta ai!

Beijos pra todo mundo!

Maurício Sordille

terça-feira, 24 de agosto de 2010


Para meus 25 anos de idade penso: 

No que eu sou feito?

Difícil ficar doente e mais ainda é perder o sorriso do rosto, talvez no trânsito, esse sim me deixa maluco e a pele branca de minha face passa pro vermelho em segundos.

Me irrita a perda de tempo. Ficar dentro do carro travado, procurando vaga no shopping pra estacionar, sendo que poderia estar rindo com minhas sobrinhas, até mesmo visitar minha avó ou um amigo. Nessa vida corrida, esqueci como se faz, visitar, e optei pelo tradicional paulistano.

Sou operário feito de concreto porque sou forte. Dois empregos, dois... AH! Canso e canso muito, mas sonho e isso me faz continuar. Sei que é uma desculpa, eu não conseguir ficar em casa dormindo, me sentiria vagabundo.

Quando criança lembro que me irritava por estar com sono e por saber que existiam pessoas fazendo algo que eu, devido ao meu cansaço não poderia... Hei eu também quero me divertir! Seria a necessidade de confete? Eu adoro confete, sempre quis ser popular e aparecer, adoro elogios, por isso sou determinado.

Agora vou ver as rugas mais fortes no meu rosto e a queda do cabelo eminente. Vou beijar a namorada que me faz bem e correr para alcançar os meus objetivos.

Obrigado a vida por me incluir na existência.

Tentarei sempre fazer a diferença.
.
Claro, a diferença boa.
Porque eu sou assim, sou bom. 
Sou o Maurício Sordille.


;) Bjo nos queridos e queridas!


Dicas para ajudar o seu cachorro


sexta-feira, 16 de julho de 2010

O Inferno Artificial - Horácio Quiroga

Leia mais contos do Horacio Quiroga aqui:




Nas noites de luar o coveiro avança por entre os túmulos com passo particularmente rígido. Está nu da cintura para cima e leva à cabeça um grande chapéu de palha. O sorriso, fixo, parece estar pregado à cara com cola. Se estivesse descalço se notaria que caminha com os polegares dos pés dobrados para baixo.

Isto não tem nada de estranho porque o coveiro abusa do clorofórnio. Circunstâncias do ofício levaram-no a provar o anestésico, e , quandoo clorofórnio morde um homem dificilmente solta. Nosso conhecido espera a noite para destapar o frasco e, como é sensato, escolhe o cemitério como o inviolável teatro de suas bebedeiras.

O clorofórnio dilata o peito na primeira inspiração; na segunda, inunda a boca de saliva; pés e mãos formigam na terceira; na quarta, os lábios, juntamente com idéias, incham, e logo se passam coisas extravagantes.

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E assim o capricho dos passos levou o coveiro até um túmulo aberto em que à tarde houve remoção de ossos-não concluída por falta de tempo. Um caixão ficou aberto atrás da grade, tendo ao lado sobre a areia, o esqueleto do homem que esteve fechado nele.

...Ouviu algo, não é verdade? Nosso conhecido abre o ferrolho, entra, e, após dar a volta ao homem de osso, ajoelha-se e aproxima seus olhos das órbitas da caveira.

Ali, no fundo, um pouco acima da base do crânio, pendurado como em um parapeito numa dobrado occipital, está aninhado um homenzinho trêmulo, amarelo, o rosto cheio de rugas. Tem boca arroxeada, as órbitas bem fundas e o olhar enlouquecido de ânsia.
É tudo que resta de uma cocainômano.

- Cocaína! Por favor, um pouco de cocaína!
O coveiro, sereno, sabe bem que ele próprio poderia dissolver com a saliva a tampa de seu frasco, para alcançar o clorofórnio proibido. É, pois, é seu dever ajudar o homenzinho trêmulo.
Sai e retorna com a seringa cheia, que se infiltra e desaparece por entre as fendas.
Mas é certo que algo chegará á abertura a que o homenzinho aderira desesperadamente. Depois de oito anos de abstinência, que molécula de cocaína não acende um delírio de força, juventude, beleza?

O coveiro fixou o olhar na órbita da caveira, e não reconheceu o homenzinho moribundo. Na cútis, firme e limpa, não havia o menos rastro de ruga. Os lábios, vermelhos e vitais, entremordiam-se com preguiçosa volúpia que não teria explicação viril se os hipnóticos não fossem quase todos femininos; e os olhos, sobretudo, antes vidrentos e apagados, brilhavam agora com tal paixão que o coveiro teve um impulso de surpresa invejosa.
- É isso, assim... a cocáina? - mumurou.

A voz do interior soou com encanto inefável.
- Ah! É necessário saber o que são oito anos de agonia! Oito anos, desesperado, gelado, preso à eternidade pela única esperança de uma gota!... Sim, é pela cocaína... E você? Conheço esse odor... clorofórnio?

- Sim - retomou o coveiro envergonhado pela misquinharia do seu paraíso artificial. E acrescentou em voz baixa: - O clorofórnio também... Eu me mataria se tivesse que abandoná-lo.
A voz soou um pouco zombeteira.
- Matar-se! E concluiria com segurança que seria como qualquer desses meus vizinhos... Apodreceria em três horas, você e seus desejos.
"Com certeza", pensou o coveiro. "Acabariam comigo."

Mas o outro não se rendera. Ardia ainda depois de oito anos aquela paixão que resistiu à falta do recipiente do deleite. Resistiu à morte do organismo que a criou, sustentou-a, e não foi capaz de aniquilá-la. Sobrevivia monstruosamente a si mesma, transformando ânsia causal em supremo gozo final, mantendo-se diante da eternidade numa reentrância do velho crânio.
A voz quente e pausada de voluptuosidade soava ainda zombeteira.

- Você se mataria... Bela coisa! Eu também me matei... Ah! você se interessa não é verdade? Mas somos farinha de sacos diferentes... No entanto traga seu clorofórnio, aspire um pouco mais e ouça-me. Sentirá então a diferença entre a sua droga e a cocaína. Vamos.
O coveiro se voltou, e, achando-se com o peito no chão, apoiado nos cotovelos e com o frasco sob o nariz, esperou.

- Seu cloro! Não é muito, vejamos. E ainda morfina... Você conhece o amor pelos perfumes? Não? E o Jick de Guerlain? Então ouça. Casei-me aos 30 anos e tive três filhos. Com sorte, mulher adorável e três criaturas sadias, era perfeitamente feliz. Mas nossa casa era grande demais para nós. Você viu. Você não... enfim... viu que as salas luxuosamente decoradas parecem mais solitárias e inutéis. Acima de tudo solitárias. Todo o nosso palacete vivia assim em silêncio o estéril e fúnebre luxo.

"Um dia, em menos de oito ou dez horas, nosso filho maior nos deixou por causa da difiteria... Na tarde seguinte, o segundo também se foi, e minha mulher se jogou sobre a única coisa que nos restava: nossa filha de quatro meses. Que nos importavam a difteria, o contágio e o resto? Apesar da ordem do médico, a mão deu de mamar à criatura, e em pouco tempo a pequena se retorcia em convulsão, para morrer oito horas depoism envenenada pelo leite da mãe.
"Faça a soma:18, 24, 9. Em 51 horas, pouco mais de dois dias, nossa casa ficou completamente silenciosa, pois nada havia para fazer. Minha mulher permanecia no quarto e eu caminhava ao lado. Fora disso, nada, nem um ruído. E dois dias antes tinhamos três filhos.

"Pois bem. Minha mulher passou quatro dias arranhado o lençol, com um ataque cerebral, e eu socorri com morfina.
"- Esqueça isso - me disse o médico. - Não é para você.
"- Para quem, então? - perguntei. E apontei para o fúnebre luxo de minha casa que continuava acendendo lentamente catástrofes, como rubis.
" O homem se conformou".

" - Experimente sulfonal, qualquer coisa... Mas seus nervos não aguentarão.
"Sulfonal, brionina, estramônio... Bah! Ah, a cocaína! É infinita a distância que vai da felicidade esparramada em cinzas ao pé de cada cama vazia ao radiante resgate dessa mesma felicidade queimada, e que cabe numa única gota de cocaína! É assombroso ter sofrido uma dor imensa momentos antes; agora surge uma súbita e plena confiança na vida: intantâneo rebrotar de ilusões que se aproximam do futuro a dez centímetros da alma aberta. Tudo isto se precipita nas veias por intermédio da agulha de platina. E o clorofónio!... Minha muher morreu. Durante dois anos gastei em cocaína muito mais do que você pode imaginar. Sabe você algo de resistência? Cinco centigramas de morfina destroem fatalmente um indivíduo robusto. Quincey chegou a tomar durante 15 anos dois gramas por dia, isto é: 40 vezes mais do que a dose mortal.

" Mas isso tem um preço. Em mim, a verdade das coisas lúgubres, contida, estonteante, dia após dia, começou se vingar, e já não tive mais nervos para enfrentar as horríveis alucinações que me assendiam. Fiz então esforços inauditos para jogar fora o demônio, sem resultado. Três vezes resisti um mês à cocaína, um mês inteiro. E caía de novo. Você não sabe, mas saberá um dia, que sofrimento, que angústia, que suor de agonia uma pessoa sente quando pretende suprimir, por um único dia, a droga!

" Por fim, envenenado até o mais íntimo de meu ser, carregado de torturas e fantasma, convertido num trêmulo detrito humano, sem sangue, sem vida, miséria a que a cocaína emprestava dez vezes por dia um disfarce radiante, para afundar em seguida num estupor cada vez mais fundo, um resto de dignidade me levou a um sanatório e me entreguei atado de pés e mãos à cura.

" Ali, sob o império de uma vontade alheia, vigiado constantemente para que não pudesse adquirir o veneno, seria inevitável me descocainizar.

" Sabe o que se passou? Eu, junto com o heroísmode suportar a tortura, levava escondido no bolso um frasquinho com cocaína... Agora imagine o que é a paixão.

" Durante um ano inteiro, depois desse fracasso, continuei me injetando. Uma longa viagem me deu não sei que misterisosas forças de reação, e me apaixonei então."
A voz se calou. O coveiro, que escutava com o sorisso baboso e fixo no rosto, aproximou o olho e acreditou notar um véu ligeiramente opaco e vidrento nos olhos de seu interloucutor. A cútis, por sua vez, rachave-se visivelmente.

- Sim- prosseguiu a voz.- É assim que começa... Concluirei logo. A você, um colega, devo a história inteira.

" Os pais dela fizeram tudo o que era possível para resistir: um morfinâmano, ou algo assim! Para minha fatalidade, dela, de todos, eu pusera em meu caminho uma pessoas supernervosa. Mas admiravelmente bela! Tinha apenas 18 anos. O luxo era para ela o que o cristal para um perfume: seu recipiente natural.

" Na primeira vez em que eu , por ter esquecido de tomar a injeção antes de entrar, caí bruscamente em sua presença, idiotizando-me, enrugando-me, ela fixou em mim seus olhos imensamente grandes, belos e espantados. Curiosamente espantados! Pálida e sem se mover, ela me viu tomar a injeção. Pelo resto da noite não cessou um só instante de olhar-me. E por trás daqueles olhos dilatados que me viram assim eu intuía por minha vez a tara neurótica, o tio internado e o irmão menor epiléptico.

" No dia seguinte encontrei-a aspirando Jicky, seu perfume predileto. Lera em 24 horas tudo o que era possível sobre hipnóticos.

" Pois bem: basta que duas pessoas sorvam os deleites da vida de maneira anormal para que se compreendam quanto mais intimamente quanto mais extravagante for a benção do gozo. Elas se unirão em seguida, excluindo qualquer outra paixão, para se isolar a felicidade alucinada de um paraíso artificial.

" Em 20 dias, aquela maravilha de corpo, beleza, juventude e elegância ficou suspensa no sopro embriagador dos perfumes. Começou a viver, como eu com a cocaína, no céu delirante do seu Jicky.

" Por fim nos pareceu perigoso o mútuo sonambulismo em sua casa, por fugaz que fosse, e decidimos criar nosso paraíso. Nenhum melhor do que minha própria casa, onde nada fora tocado a qual eu não voltaria mais. Levantaram-se os amplos e baixos divãs para a sala. E ali, no mesmo silêncio e na mesma suntuosidade fúnebre que incubou a morte de meus filhos, na profunda quietude da sala, com a lâmpada acesa à uma da tarde, sob a atmosfera pesada de perfumes, vivemos horas e mais horas nosso fraternal e taciturno idílio, eu estendido imóvel com os olhos abertos, pálido como a morte, ela deitada no divã, mantendo sob o nariz , com a mão gelada, o frasco de Jicky.

" Não havia em nós o menorrastro de desejo. Mas como ela estava com suas frofundas olheiras, o penteado descomposto e o intenso luxo do vestido imaculado!

"Durante três meses raramente faltou, sem eu saber como, a visitas, casamentos e garden parties para que de nada suspeitassem. Naquelas ocasiões chegava ansiosa ao dia seguinte, entrava sem olhar pra mim, tirava o chapéu com gesto brusco, para se entregar em seguida, cabeça lançada para trás e olhos fechados, ao sonambulismo do seu Jicky.

" Vou abreviar: numa tarde, e por uma dessas reações inexplicáveis com que os organismos envenenados liberam em explosão suas reservas de defesa, os morfinômanos as conhecem bem!, senti todo o profundo gozo que havia, não em minha cocaína, mas naquele corpo de 18 anos, admiravelmente feito para ser desejado. Essa tarde, como nunca, sua beleza surgia pálida e sensual da suntuosa quietude da sala iluminada. Tão brusca foi a sacudida que me encontrei sentado no divã, olhando-a. Dezoito anos... e com essa beleza!

" Ela me viu chegar perto sem fazer um só movimento, e, quando me inclinei, olhou-me com fria estranheza.
'- Sim - murmurei.
- Não, não... - respondeu ela com voz neutra, desviando a boca com pesados movimentos da sua cabeleira.

"Por fim atirou a cabeça para trás e cedeu, fechando os olhos.
"Ah! Para que ter ressuscitado por um instante se minha potência viril, meu orgulho varão, não revivia mais! Estava morto para sempre, afogado, dissolvido no mar da cocaína.! Caí ao seu lado, sentado no chão, e mergulhei a cabeça no seu vestido, permanecendo assim uma hora inteira em profundo silêncio, enquanto ela, muito pálida, mantinha-se também imóvel, com os olhos abertos e fixos no teto.

"Mas esse rastilho de reação que acendera um efêmero relâmpago de ruína sensorial trazia também à tona da consciência quanta honra masculina e vergonha viril agonizavam em mim. O fracasso de um dia no sanatório e a vida diária ante minha própria dignidade nada eram em comparação com esse momento, compreende? Para que viver se o inferno artificial em que me precipitara e do qual não podia sair era incapaz de me absorver totalmente! E me liberava por um instante, para me submergir nesse final!

"Levantei-me, fui para dentro e me dirigi a um móvel onde guardava meu revólver. Quando retornei, ela tinha as pálpebras fechadas.
"-Vamos nos matar - eu disse.
"Entreabriu os olhos e durante um minuto não desviou o olhar de mim. A fronte límpida voltou a ter o mesmo movimento de cansado êxtase.

"- Vamos nos matar - ela murmurou.
"Percorreu em seguida com o olhar o fúnebre luxo da sala, em que a lâmpada ardia com luz forte, e contraiu ligeiramente o semblante.

"- Aqui não - acrescentou,
"Saímos juntos, sobrecarregados ainda de alucinação, e atravessamos a casa ressoante. Peça por peça. No fim, ela se apoiou a uma porta e fechou os olhos . Caiu ao longo da parede. Voltei a arma contra mim e me matei por minha vez.

"Então, quando, devido à explosão, minha mandíbula se desprendeu bruscamente e senti um imenso formigamento na cabeça, quando o coração teve dois ou três sobressaltos e ficou paralisado, quando em meu cérebro e em meus nervos e em meu sangue não houve a mínima probabilidade de tornarem à vida, senti que minha dívida com a cocaína estava quitada. Eu me matara mas também a matei por minha vez!

"Mas me enganei! Um instante depois vi, entrando vacilantes e de mãos dadas, pela porta da sala, nossos corpos mortos, que voltavam teimosamente."

A voz se partiu de repente.

- Cocaína! Por favor, um pouco de cocaína!

À Deriva - Horacio Quiroga